Perda de Consciência Situacional

Onze dicas essenciais para identificar uma das mais perigosas falhas humanas em acidentes aéreos

    A tecnologia tem tornado a aviação cada vez mais segura. As aeronaves atuais possuem sistemas redundantes e inúmeros alarmes e proteções contra falhas. Quando um equipamento deixa de funcionar como deveria, um aviso se acende no painel e o piloto reporta-se ao “check-list”, onde vai encontrar procedimentos de emergência para lidar com qualquer situação previsível. Devido a este alto nível de proteção, as aeronaves de hoje possuem excelentes índices de confiabilidade técnica.


             Por outro lado, quando o foco é o tripulante parece não existir nenhum tipo de alarme que indique uma degradação de desempenho durante a operação e nem procedimentos no check-list. Como a grande maioria dos acidentes aéreos estão atrelados à falhas humanas, seria extremamente valioso, como ferramenta de prevenção, se houvesse como alertar o piloto quando o seu desempenho estivesse diminuindo. Apesar de parecer difícil à primeira vista, existe sim uma forma de identificar sutis colapsos no desempenho humano durante o voo e preparar-se para atenuá-los. Uma das falhas apontadas com alarmante frequência nas investigações de acidentes tem sido a perda de CONSCIÊNCIA SITUACIONAL da tripulação.  Mas o que é consciência situacional e como a sua falta poderia conduzir a acidentes?

Definição

          Consciência Situacional (CS) é a percepção precisa de todos os fatores que estejam afetando a operação da aeronave. Significa que o tripulante consegue tanto PERCEBER e COMPREENDER a situação, como PROJETAR os acontecimentos futuros na operação da aeronave. Dizer que um tripulante tem consciência situacional é um jeito bonito de dizer que ele está “enxergando o cenário geral” e que está preparado para o que pode acontecer pela frente. Os problemas surgem quando a percepção que ele possui não corresponde à realidade, pois isto pode levar à decisões incorretas na cabine, afetando a segurança do voo. 

     Sendo a perda de CS um aspecto tão importante e frequente em acidentes aéreos, organizações de treinamento compilaram vários indicativos de que um tripulante estaria perdendo consciência situacional. Estes indicadores funcionariam como uma luz de aviso no painel de alarmes, só que, ao invés de alertar para falhas mecânicas, estariam advertindo para uma redução do desempenho do ser humano. Da mesma forma que uma luz de alarme de gerador nos faz prestar mais atenção ao sistema elétrico, o aparecimento de um ou mais indicativos de perda de consciência situacional devem ser vistos como gatilhos para alertar o piloto sobre o seu próprio desempenho e sobre a operação da aeronave

     São ONZE os indicadores de perda de C.S. que o tripulante deve conhecer e comentaremos como interpretar cada um deles. 

1.  FALHA EM ATINGIR METAS

Todo voo envolve atingir uma série de parâmetros esperados, seja a hora estimada de chegada, o consumo, a velocidade, potência, razão de subida, etc. Se estes parâmetros não são atingidos, é provável que esteja acontecendo algo que o piloto não está acompanhando. Suponhamos, por exemplo, que a velocidade de subida prevista para seu avião seja de 150kt. Após a decolagem, o aparelho não desenvolve mais que 120 kt. Claramente, uma meta não foi atingida. Mas qual o motivo? As possibilidades são várias: talvez o trem de pouso não tenha sido recolhido, o flap ainda esteja estendido, a potência de decolagem não esteja ajustada ou a atitude em arfagem esteja maior que o previsto. O indicador de perda de C.S. deve, portanto, funcionar como um alerta para o tripulante. Para detectar o que está acontecendo é necessário que ele revise a operação para tentar identificar a causa. Vejamos outro exemplo. Durante um voo em rota, você estimou a hora para chegar a um determinado fixo de controle, mas já passaram cinco minutos e nada do ponto. Meta não atingida. Reveja logo o planejamento. Será que as proas estão corretas? Foi usada a velocidade prevista? Um vento de proa retardou o deslocamento? Parecem ações simples e óbvias, mas o desconhecimento deste conceito causou dezenas de mortes no fatídico voo RG254, um Boeing 737 que saiu de Marabá para Belém em 1989 e nunca chegou ao destino, fazendo um pouso forçado noturno na floresta amazônica. Os tripulantes levaram mais de uma hora além da estimada no destino para perceber que tinham tomado a proa incorreta em rota. Também não atinaram que deveriam estar falando com o Controle de Aproximação de Belém pelo rádio VHF de curto alcance, mas só conseguiam comunicar por meio do rádio HF de longo alcance, ou que os equipamentos de navegação a bordo não recebiam nenhum sinal do aeroporto de destino. Ou seja, parâmetros esperados não foram atingidos e não dispararam na tripulação a necessidade de rever a situação. Em resumo, se alguma meta não foi atingida, revise a sua operação imediatamente.

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